terça-feira, 11 de maio de 2010

Estação Primavera

Esta não é a plataforma de embarque
porque a plataforma começa bem antes,
mas é a primeira estação de passagem
para a descoberta final de si mesmo.

Nem há bilhete que indique o destino,
nem placa, nem guia, nem mão, nem ensino.
A estrada exige somente a coragem,
difícil traçado do próprio caminho.

O tempo é de sobra e a existência contínua.
Espelhos não mostram o percurso dos anos.
O prazer da aventura e a paixão pela vida
sustentam ilusões e compensam enganos.

Para o corpo entregue à emoção timoneira
o horizonte mais amplo é frágil fronteira.
Tudo é possível de um gesto mais longe.
Tudo é possível de um novo começo.

O vento de popa estilhaça correntes:
antigas amarras de afagos paternos,
trilhas seguras em mapas eternos,
palavras visíveis ao som de um olhar.

Nada resiste à invenção do momento.
Ser é um saber que respira no peito.
Dor é o sabor de um encanto desfeito.
Amar é saber o sabor de um cheiro.

A alegria se colhe na mão companheira,
a solidão se semeia à beira do amor.

( Carlos Queiroz Telles. Sonhos, grilos e paixões. São Paulo: Moderna, 1990. p. 61.)


*--*Adoreeei este poema! Encontrei-o nas primeiras páginas do livro do 8º ano do Ensino Fundamental.

É realmente maravilhoso!!!

Um comentário:

  1. Que lindo!!! Eu também na extinta 8ª série me encantei com ele isso em 2002, decorei e nunca esqueci. Resumindo em palavras (para mim)... Eterno e especial!

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